quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Ode à noite (inteira)

Gosto do momento, exacto ou nem por isso,
em que se torna possível colar cartazes
nas paredes ao lado dos meus ombros (espero
o autocarro, vejo devagar, sorrio). Mas
gosto, sobretudo, dos cães quase sem dono
que roçam as esquinas, pisando restos de garrafas
– ou das pessoas que desconheço
e das bebidas todas que ignoro
(porque me matam menos e se chamam
– como eu – insónia, pesadelo, golpe baixo).

Existem, claro, raparigas louras um tanto
heterodoxas que não te apetece beijar
(a forca do bâton, perfeita – o cigarro aceso
pedindo outro lume). Essas mesmas que hão-de
um dia procriar com zelo, evitando rugas,
tumores e o mundo como representação misógina.
Mais lírica, sem dúvida, é a lavagem das ruas,
com a cerveja a premiar a farda
demasiado verde e os bigodes de serviço.

Outros, alguns, tornam concreto o torpor
de um charro e pedem-te em crioulo básico
um cigarro português que tu vais dar,
sem esforço nem palavras. Entre shots, piercings,
t-shirts de Guevara e gel, podes não acreditar
por algumas horas no axioma frágil do teu corpo.
Esfumas-te, como eles, no espelho de um bar
qualquer, país de enganos e baratas. E
quase gostas disso, quase: a música de punhais,
servil, um certo e procurado desencontro.
Um táxi te ensinará depois o caminho de casa
– ou o seu contrário, pois só ali (anónimo
e desfocado) eras finalmente tu, ou podias ser.

O resto, a vida, fica para outra vez.


Manuel de Freitas

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Hockey - Too Fake

E no meio de muito frio (tanto lá fora, como aqui no "sitio"), fica a música que me faz lembrar o verão... e que bem me soube este verão !

sábado, 21 de novembro de 2009

Amigo

Não o tinha de "dizer", mas este mesmo não sendo meu é para ti, manito...

Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra amigo!

Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,

Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

Amigo (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
Amigo é o contrário de inimigo!

Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado.
É a verdade partilhada, praticada.

Amigo é a solidão derrotada!

Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa!

Alexandre O'Neill

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Meio termo

Subo tão alto sem saber,
E está frio, tanto frio.
Desço tão baixo sem saber,
Respiro, suspiro!
Um meio termo seria bom…
E está frio, tanto frio.
Uma casa em perfeita profanação,
Retiro, insiro!
Um silêncio seria bom,
Mas está frio… aquele frio.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Confissão

Escrever pode ser uma óptima desculpa para quem na vida não tem qualquer esperança. É uma maneira de preencher uma sombra e há momentos em que um beijo escrito vale por muitos.
É sempre a vida, é claro, mas com a distância limpissíma das palavras. E tudo sofre de uma insuficiência que a arte tenta reparar, e falha.
Espero que a esperança um dia venha e tudo isto não seja mais que um exercício de gramática.

Pedro Paixão

domingo, 25 de outubro de 2009

Skunk Anansie - Because of You

Quando se regressa, e se regressa em grande, é sempre em dose dupla...

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Skunk Anansie - Squander

É para mim o regresso do ano. É para mim uma grande música... Estão de volta, em grande como sempre !

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Pirómano

Há dias em que me sinto um pirómano, caixa de fósforos na mão, garrafão de gasolina na outra e corro, corro na tua direcção e rego-te mas não te ateio o fogo, pelo menos nos próximos minutos, vou regando, aos poucos, vejo a gasolina escorrer o teu corpo, e aprecio…
Olho para ti, regada, e gosto…Mais dois ou três silêncios, olhares e volto a regar-te e pego no fósforo e raspo na caixa e o lume cresce, de novo um silêncio e por fim incendeio-te. Levo o fogo a consumir a tua alma, o teu corpo e mais corpo…todos os cantos do teu corpo e vejo-te arder e gosto, e gostas !
Deixo queimar até onde posso, até onde deixas, até ao limite e ardem em pequenos silêncios que se vão quebrando com meia dúzia de palavras e as chamas crescem e fazes questão que se alastrem a mim e eu ardo e já há muito fogo também em mim e chamas cruzam-se e ardem juntas perdendo todo o controlo.
E, quando já se ouvem as sirenes dos bombeiros ao longe e se aproximam cada vez mais, apago-me, apago-te só para ter o prazer de nos voltar a incendiar.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Jorge Cruz - Juízo Final (versão de Careless Whispers)

A qualidade do vídeo não é a melhor, mas fica o som e as palavras... bom, muito bom, Joca no seu melhor !!

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Guerrilheiros Urbanos

Como se tudo fosse uma guerra, mas daquelas guerras em paz, sem conflitos, talvez até seja estranho dizer isto desta maneira, talvez até nem tenha sentido nenhum o que estou a escrever, o certo é que em viagem, quer estáticas, quer móveis, partilhamos cicatrizes de outras batalhas, de outros combates e ao partilhar revivemos, porque combatemos sempre do mesmo lado, dividimos a caserna, trocamos balas e lançamos morteiros quase ao mesmo tempo, na mesma direcção.
Quando penso nisto, quando olho para o nosso Plutão, somos tão poucos… e não há Capitães, Tenentes, Coronéis, nem Majores sem medo de nada. Existem apenas direcções, coordenadas, caminhos traçados no instante, por vezes sem sentido ou qualquer tipo de lógica (talvez como este texto) mas chegamos lá… ao destino, ao campo de batalha, ao confronto com o inimigo… e somos tão “valentes” ao ponto de chorar as feridas ao som de uma música triste e nunca de uma música qualquer…
Não somos ex-combatentes de ultramar, nem tão pouco somos americanos frustrados que torturaram PESSOAS, invadem nações e compram “gentes” para fazer valer os seus reles ideais… Não, não somos desses combatentes, somos do outro lado, do lado em que a luta se faz com metáforas, algumas delas meias parvas como as deste aglomerado de palavras, apenas para dar exemplo.
Também não usamos fardas, uniformes, somos o que me apetecia chamar de Guerrilheiros Urbanos, sem líderes, nem regras implantadas... livres. Temos apenas um único ideal, estar na frente da batalha e não esperamos qualquer tipo de condecoração solene, homenagens honrosas ou qualquer tipo de regalias.
Contudo, serve isto para dizer, que se me sair o Euromilhões esta Sexta-Feira, farei uma estátua nossa no meu quintal, na qual terá o seguinte dizer:

Hasta la victoria siempre !!!

domingo, 30 de agosto de 2009

Gosto

Deixo-me ir e gosto,
De ir em ti.
No teu toque, no teu beijo…
Deixo-me ir e gosto,
De ir nesta estranheza,
Neste deambular de sentidos,
E me perder em ti.
Deixo-me ir e gosto,
Quando sorris com os olhos,
Quando me agarras,
Quando me levas em ti.
Deixo-me ir e gosto,
Deste desejo, desse teu cheiro…
Que me faz pensar em ti.
Deixo-me ir e gosto…
…De gostar de ti.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Quem mais poderia entender?

Senti de novo o cheiro
E tu estavas lá.
Quem mais poderia estar?
Quem mais poderia entender?
Aquele correr,
Aquele brilho,
Aquela azafama.
Senti de novo tantos sentidos.
E nós estávamos lá.
Quem mais poderia estar?
Quem mais poderia entender?
Já são muitos anos,
Muitas caminhadas,
Poderia até dizer tantas paixões,
Tantas outras alegrias.
Senti de novo que era ali que queríamos estar.
E estávamos, como havemos de estar,
Muitas outras vezes…
Senti de novo que somos assim…
Seja lá o que isso quer dizer.
Mas somos… E gostamos !

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

The Gossip - Heavy Cross

É a música deste Verão do Faz Frio na Esacada...

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

LIBERDADE

Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa

terça-feira, 4 de agosto de 2009

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Apatia

Na minha indiferença,
Sinto-me diferente…
Ao sorriso, ao sentir.
É a tal apatia do sonho,
Que fugiu, como foge o Quim!
Depois de fechar os olhos,
Já não brilho, nem disfarço.
Apenas brinco ao sono,
De mão dada com o cansaço.
Na minha diferença,
Sinto-me indiferente,
Às leituras, às escritas.
É a tal apatia do sonho.
Que fugiu, que fugiu de mim.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

A Morte absoluta

Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.

Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão – felizes! – num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.

Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.

Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."

Morrer mais completamente ainda,
Sem deixar sequer esse nome.

Manuel Bandeira

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Michael Jackson - The King of Pop



Poderia dizer tanta coisa sobre o Rei da Pop, todas as loucuras cometidas, todas as revoluções que fez no corpo...mas não podemos esquecer a maior revolução de todas, a da música Pop.
A música que ouvimos hoje em dia em grande parte a ele se deve mas, como tem sido hábito todos os génios da música morrem "cedo", de forma estranha ou abrupta, Michael Jackson não fugiu à regra, por muitos "defeitos" que teve deverá ser recordado por coisas como esta...

segunda-feira, 8 de junho de 2009

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Rifão Quotidiano

Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia

chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a

é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece

Mário Henrique Leiria

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Foge Foge Bandido - Meu Amor Está Perto

Este Senhor é um génio da música, da escrita, aqui fica uma amostra do último trabalho a solo. Manel Cruz é grande... muito grande!



a chuva molha a minha roupa
os carros não param de gritar
convidando-me para morrer
eu procuro não olhar
desse eu brilho à minha estrela
não teria de me esconder
mas a chuva nas minhas mãos lembra-me
que vou morrer

meu amor está perto
vejo-o correndo para mim
só que eu não sou certo
vejo-me correndo para o fim

vem morar na tua casa
o pobre nunca te viu ficar
chegas sempre com um dos pés pronto
para não entrar

meu amor está perto
vejo-o correndo para mim
só que eu não sou certo
vejo-me correndo para o fim

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Caminhos

Já caminhamos por ruas,
Sem sentido,
Em busca de nada,
Mas de olhos postos em tudo.
Pisamos riscos,
E tantas linhas calcadas…
Depois as fugas, no covil.
E passaram horas…
Tantas horas.
E quando damos por nós,
Voltamos a caminhar por ruas,
Mas agora com sentido,
Em busca de vida,
E de olhos postos no nada.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Pensar duas vezes...

Tinha de partilhar este video...

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Em ti

Existe algo em ti,
Um fascínio,
Uma loucura.
Aquele brilho,
Aquele som,
A magia que tens.
A sensualidade que transportas.
Viagens,
Paixões,
Amores,
E lá no fundo a tristeza,
A solidão.
Existe tudo em ti…Noite.

terça-feira, 7 de abril de 2009

terça-feira, 24 de março de 2009

Noite

Eu vivo
nos bairros escuros do mundo
sem luz nem vida.

Vou pelas ruas
às apalpadelas
encostado aos meus informes sonhos
tropeçando na escravidão
ao meu desejo de ser.

São bairros de escravos
mundos de miséria
bairros escuros.

Onde as vontades se diluíram
e os homens se confundiram
com as coisas.

Ando aos trambolhões
pelas ruas sem luz
desconhecidas
pejadas de mística e terror
de braço dado com fantasmas.

Também a noite é escura.


Agostinho Neto

terça-feira, 17 de março de 2009

quinta-feira, 12 de março de 2009

SORRATEIRAMENTE

E sorrateiramente chegou à minha beira, gorro branco na cabeça, sorriso tímido mas maroto, à boa maneira de “nuestros hermanos”.
Pouco foi necessário para soltar sorrisos, brilhos e magias… Um olhar, um ou dois copos vazios e assim estávamos em festa. Nada o fazia prever, mas acontece, dizem os entendidos.
Um até amanhã, um cheiro qualquer que veio comigo para casa, uma pequena alucinação.
O dia seguinte é sempre mais difícil, dizem outra vez os entendidos, (e eu tenho de concordar) a timidez do sorriso já tinha evaporado, ficou apenas o sangue quente e o corpo arranjado.
Mais um ou dois copos vazios, atrevia-me a dizer três ou quatro, mas quero antes pensar em dois e, é aqui que mais uma vez entram os entendidos a dizer alto e a bom som que dois é um número romântico… e eu continuo, na tal alucinação, pequena mas forte, com garra, como a tua garra.
Chegam sorrateiramente as palavras trocadas, horas que me pareceram dias, e de novo sorrisos e olhares marotos.
Entre os momentos e a despedia, ficam os impacientes cigarros que ambos fumamos. Tudo soube a tão pouco, houve convites, houve sinais que não quero entender, certezas, outras tantas dúvidas e um carro a correr.
Levei de novo um cheiro para casa, mas já não era um cheiro qualquer, levei também fantasias, estradas que hoje descubro estarem cortadas mas que me atrevo a passar.
Sorrateiramente, esta minha pequena alucinação transforma-se numa leve demência que me sabe bem, mas que magoa, que me trilha o peito como um soutien apertado, mesmo que nunca tenha usado nenhum.
E assim fiquei, pensativo, utópico como sempre, com saudade de um gorro branco, com saudade de dois copos vazios, duma quarta-feira qualquer que passou sem avisar…sorrateiramente.
Dizem os entendidos mais uma vez e para finalizar, que se falecesse ali… naquele momento, falecia feliz!
E quem sou eu para os contrariar?

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Concha Buika - Volveras

Olvídame si puedes, yo no he podido

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Dor

Dói saber que queria… que quero!
E não estás.
Dói teu ultimo olhar,
Teu sorriso triste.
Disfarçando o indisfarçável.
Dói saber que foram dois dias,
O que podia ser um século.
Dói saber que vais nesta hora para o teu lugar,
Para onde não te posso tocar.
Dói saber que tanto tinha para te dizer e escutar.
Dói saber que os meus braços não chegam para te abraçar.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Aranha

Ela sempre tinha gostado de aranhas e fumava SG Filtro, não pelo tabaco mas sim pelo azul da embalagem que dizia “ficar bem” com o seu tom de pele.
Certo dia, numa noite de verão muito quente, fumava sentada na soleira da sua porta e eis senão quando, no maço de tabaco estava uma aranha, grande, peluda, quieta.
Fixou o seu olhar no araquenídeo e, de um momento para o outro a aranha salta, ferra e foge… era venenosa.
Três horas no hospital, quatro injecções, foi o que bastou para deixar de gostar de aranhas, todavia, pelo sim pelo não, começou a fumar SG Ventil.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

João Aguardela 1969 - 2009

Foi fundador dos Sitiados, tinha o projecto a solo Megafone, que misturava a música tradicional portuguesa com música electrónica, Linha da Frente e A Naifa, foram os seus projectos mais recentes.
Faleceu domingo à noite, vitima de cancro aos 39 anos.
Um impulsionador da música portuguesa...

Sitiados - Outro parvo no meu lugar

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Que é voar?

Que é voar?
É só subir no ar,
levantar da terra o corpo,os pés?
Isso é que é voar?
Não.

Voar é libertar-me,
é parar no espaço inconsistente
é ser livre,leve,independente
é ter a alma separada de toda a existência
é não viver senão em não -vivência

E isso é voar?
Não.

Voar é humano
é transitório,momentâneo...

Aquele que voa tem de poisar em algum lugar:
isso é partir
e não voltar.

Ana Hatherly

domingo, 4 de janeiro de 2009

Kings Of Leon - Sex On Fire

É desta meneira que 2009 entra pela Escada acima...