terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Poema do Homem Só

Sós,
irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós
e ninguém nos conhece.

Os que passam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros nada explicam:
Arrefecem

Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de outro se refracta,
nenhum ser nós se transmite.

Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.

Dão-se os lábios, dão-se os braços
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, e dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,
abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como uma braçada rota
dá-se tudo e nada fica.

Mas este íntimo secreto
que no silêncio concreto,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarce,
virgem de mal e de bem,
este dar-se, este entregar-se,
descobrir-se, e desflorar-se,
é nosso de mais ninguém.

António Gedeão

domingo, 21 de novembro de 2010

Linda Martini - Adeus Tristeza

Todos os dias, todas as horas, todos os minutos, deveriam ser vividos em assimilação de coisas novas, de momentos intensos, de vontades, desejos, partilhas...

Hoje, aqui e agora, o "Faz Frio" (e faz...)Partilha com os seus leitores música portuguesa de qualidade, nova, fresca, mesmo relembrando passados.

Nem só de Leandros e Carreiras vive o som nacional...

É tempo de dizer "Adeus Tristesa"




P.S. - Pela primeira vez neste estaminé... um post partilhado.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

sábado, 30 de outubro de 2010

Bala

É a constante ilusão de sentidos.
Um murmurar no ouvido,
Um sorriso ao fundo da escada,
E as duas lágrimas que se escondem.
São os velhos medos, os velhos dias.
São os amargos na boca,
E o fechar de olhos, pedido.
É o dilúvio que vem de dentro,
A fuga para o vazio.
É um abraço que não chega,
Que cai no choro contido.
E assim estou no tapete,
Meio para o estendido…
Uma bala que marca o peito,
É só mais um nos desconhecidos.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

domingo, 17 de outubro de 2010

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Dois

Dois corpos quentes,
O fluir de um ósculo,
O abraço que se quer forte,
Intenso, tão intenso.
Dois corpos nus,
A procura do caminho,
O toque que faz viajar.
Intenso, tão intenso.
Dois corpos unidos,
A ânsia do prazer,
Intenso, tão intenso.
Dois corpos fatigados,
A exaustão da loucura,
O resumir daquele desejo.
Intenso, muito intenso.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Schiller mit Heppner - Dream Of You

Vá-se lá saber porquê...

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Santa Cruz com laranja

Nos últimos dias a esta hora estava contigo, a esta e a todas as outras, mas hoje, aqui sentado, onde o tempo demora ainda mais tempo a passar do que lá longe, sinto a nostalgia de te ter aqui, ao meu lado, a cada demorado e penoso segundo.
O sabor a ti, o cheiro a nós e num simples instante, momento ou sorriso, resumir tudo àquela palavra que tantas vezes trocamos…
Hoje, com aquele nó na garganta que nos faz custar dizer as palavras ou até mesmo construir uma frase, faz-me ter vontade de dizer tanta coisa, de ouvir outras tantas, para no fim, colar os meus lábios aos teus, beber um Santa Cruz com laranja e rir contigo numa qualquer piscina no fim do mundo.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

John Mayer - Heartbreak Warfare

Por vezes são acasos, momentos, dias, um simples minuto ou segundo...

Neste caso nao foi um acaso estar ao teu lado quando ouvi isto pela primeira vez.

Esta é so para ti...

domingo, 8 de agosto de 2010

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Anuário

Já não há laivos antigos,
Apenas restos mastigados,
Numa noite quente e esquecida.
Como pano de fundo, tu.
Um encanto, um espanto,
Uma réstia de alegria.
Já não há sons pedidos,
Apenas acordes sós,
Num dia frio e já sem vida,
Como pano de fundo, eu.
Um desencanto, um espanto.
Uma réstia de magia.
Já não há jogos perdidos,
Apenas beijos sentidos,
Num Agosto morno e festivo,
Como pano de fundo, nós.
Um alento, um encanto
A tal réstia de euforia.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Florence + the Machine - You've Got the Love

É a música de verão... O Video, a Musica, a Letra... está tudo lá...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.

Manuel Bandeira

quinta-feira, 15 de julho de 2010

3 Doors Down - It's Not My Time

O "Rock FM" nunca fez mal a ninguem...

sábado, 10 de julho de 2010

Maresia

Ainda que longe,
O cheiro é o mesmo.
Nem o fresco da noite,
Nem a nuvem do dia…
Nada muda, nada!
E mesmo que seja tarde,
Já o sol não brilha.
Onde está a maresia?
Apenas o de sempre,
Um copo, um cinzeiro,
Aquele isqueiro…
E palavras, as mesmas palavras,
Velhas, sujas e gastas.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Slimmy - Be someone Else

Não é por ser amigo... é porque tem muita qualidade...

segunda-feira, 31 de maio de 2010

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Aquele triste silêncio

Hoje há apenas um saco vazio,
E aquele triste silêncio.
A mão, está no bolso e não treme,
A cabeça já não está aqui.
Hoje há apenas o que falta de ti,
E aquele triste silêncio.
O coração, está no bolso e não treme,
O pensamento já não está aqui.
Hoje há apenas aquilo que não quero,
E aquele triste silêncio.
O desejo, está no bolso e não treme,
O amor, esse maldito, continua aqui.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Soneto 96 de William Shakespeare

Ontem recebi como dedicatória, hoje partilho com o mundo...

De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça. Amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera
Ou se vacila ao mínimo temor.

Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
È astro que norteia a vela errante
Cujo valor se ignora, lá na altura.

Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfanje não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,

Antes se afirma, para a eternidade.
Se isto é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.

William Shakespeare

quarta-feira, 5 de maio de 2010

...

Da grande página aberta do teu corpo
sai um sol verde
um olhar nu no silêncio de metal
uma nódoa no teu peito de água clara

Pela janela vejo a pequenina mão
de um insecto escuro
percorrer a madeira do momento intacto
meus braços agitam-te como uma bandeira em brasa
ó favos de sol

Da grande página aberta
sai a água de um chão vermelho e doce
saem os lábios de laranja beijo a beijo
o grande sismo do silêncio
em que soberba cais vencida flor


António Ramos Rosa

domingo, 25 de abril de 2010

Pedro Abrunhosa Não Desistas de Mim

Às vezes também tenho o direito de ser lamechas... e é tão bom... esta letra, o melhor que ele tem, diz tanto e tanto...o disco é novo, as dores são velhas... é desfrutar da escrita e fazer o favor de ouvir a música...



A porta fechou-se contigo,
Levaste na noite o meu chão,
E agora neste quarto vazio
Não sei que outras sombras virão.
E alguém ao longe me diz:

Há um perfume que ficou na escada,
E na TV o teu canal está aberto,
Desenhos de corpos na cama fechada,
São um mapa de um passado deserto.

Eu sei que houve um tempo
Em que tu e eu
Fomos dois pássaros loucos,
Voámos pelas ruas
Que fizemos céu,
Somos a pele um do outro.

Não desistas de mim,
Não te percas agora,
Não desistas de mim
A noite ainda demora.

Ainda sei de cor o teu ventre
E o vestido rasgado de encanto,
A luz da manhã,
O teu corpo por dentro,
E a pele na pele de quem se quer tanto.

Não tenho mais segredos,
Escondi-me nos teus dedos,
Somos metades iguais.
Mas hoje,
Só hoje,
Leva-me para onde vais
Que eu quero é dizer-te:

Não desistas de mim,
Não te percas agora,
Não desistas de mim
A noite ainda demora.

sábado, 17 de abril de 2010

domingo, 11 de abril de 2010

As cores

Pinto os dias de azul,
Sem sequer saber as cores.
Afogo-me num cinzento qualquer,
Calco largos riscos vermelhos,
E ainda não sei as cores.
Visto-me de preto.
Escorrego em algo verde,
E fico amarelo só de pensar.
Já de noite, quando acendem as luzes,
Reparo no laranja que brilha…
O cão, uiva em tons de lilás.
Coloco os tais óculos castanhos,
E descubro que sou daltónico.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Sim, sei bem

Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.

Fernando Pessoa

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Diabo na Cruz - Dona Ligeirinha

É o álbum do momento...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

La Roux - Bulletproof

Só porque me faz "cheirar" a verão...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Ponteiro

Ao consumir a noite e suas horas,
Vejo com a clareza nocturna
Uma sombra de dor.
Espero, espero um pouco mais.
O rolar das pedras,
Das vidas cansadas,
E o ponteiro dos minutos,
Que tem o poder de nunca parar.
Depois o fumo e mais fumo,
E a garganta já arranhar…
Divago numa ou outra leitura antiga,
E o ponteiro continua sem parar.
Um lápis, o velho caderno,
Uma ou duas músicas que tenho de escutar.
É dia, é já outro dia.
E eu não sei o que é acordar.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Cadeira

Saio agora da porta,
A correr, como de habitual.
Sempre o mesmo sono, repetido,
Um tanto ou quanto banal.
Aconchegam-me notícias tuas,
E o despertar é mais racional.
Vou pelo caminho velho,
Sem saber se é normal.
Um semáforo vermelho,
Mais um atraso, mais um jornal.
Por fim a tal cadeira…
E a certeza, que este não é o meu local.