terça-feira, 27 de novembro de 2007

Flutuando

Nestas atribulações constantes
O meu barco navega.
Pouco ou nada vale,
Ser dele comandante.
As marés calmas
Ou as tempestades fulgurantes,
É o que me comandam.
Navego nele à deriva.
Ao sabor da solidão,
E às ondas vou cantando
O fado triste da ilusão.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Palma

Foi uma viagem na palma da mão…na palma da mão do Tio Palma, ontem no Coliseu da Invicta.

Irreverente, sonhador, poeta, boémio como só ele sabe ser…

Quanto for grande quero ser como tu Tio Palma…


Para recordar Estrela do Mar.. em breve video do espetáculo...

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Orelha

Sinto aquele vento a entrar pela minha orelha direita e acho estranho o arrepio que ele provoca no meu cérebro já gasto de tantas horas a pensar na morte da Bezerra.

Eis senão quando, me lembro que não conheci pessoalmente nenhuma Bezerra.

Porém, convivi com algumas Vitelas de carne tenra e suculenta, ao que me leva a deduzir que não sou vegetariano nem “alinho” nessas novas formas de inventar alimentos a que dão o nome de “cozinha orgânica”.

Todavia, gosto de um bom grelo, não muito temperado, apenas duas ou três pitadas de sal.

Já na orelha esquerda, aquela onde uso aparelho auditivo, não sinto o vento nem algo que se pareça com algum tipo de ruído ou barulho, o que me leva a finalizar este meu pequeno desabafo, com a maravilhosa conclusão que tenho de trocar a pilha ao aparelho, urgentemente.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

David Mourão-Ferreira

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.

David Mourão-Ferreira

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Lume brando

No limbo constante,
Da incerteza,
Da profanação,
Do alucinamento flutuante,
Da fome,
Da ruptura,
Da difamação.
Sim, sou eu,
Este que vos escreve,
Perdido,
Achado,
No lume brando
Que é esta esfera,
Onde a sorte te leva,
Onde a quimera te espera.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

José Régio - O Amor e a Morte

Canção cruel

Corpo de ânsia.
Eu sonhei que te prostava,
E te enleava
Aos meus músculos!

Olhos de êxtase,
Eu sonhei que em vós bebia
Melancolia
De há séculos!

Boca sôfrega,
Rosa brava
Eu sonhei que te esfolhava
Petala a pétala!

Seios rígidos,
Eu sonhei que vos mordia
Até que sentia
Vómitos!

Ventre de mármore,
Eu sonhei que te sugava,
E esgotava
Como a um cálice!

Pernas de estátua,
Eu sonhei que vos abria,
Na fantasia,
Como pórticos!

Pés de sílfide,
Eu sonhei que vos queimava
Na lava
Destas mãos ávidas!

Corpo de ânsia,
Flor de volúpia sem lei!
Não te apagues, sonho! mata-me
Como eu sonhei.


José Régio