quinta-feira, 23 de julho de 2009

Apatia

Na minha indiferença,
Sinto-me diferente…
Ao sorriso, ao sentir.
É a tal apatia do sonho,
Que fugiu, como foge o Quim!
Depois de fechar os olhos,
Já não brilho, nem disfarço.
Apenas brinco ao sono,
De mão dada com o cansaço.
Na minha diferença,
Sinto-me indiferente,
Às leituras, às escritas.
É a tal apatia do sonho.
Que fugiu, que fugiu de mim.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

A Morte absoluta

Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.

Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão – felizes! – num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.

Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.

Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."

Morrer mais completamente ainda,
Sem deixar sequer esse nome.

Manuel Bandeira