terça-feira, 24 de março de 2009

Noite

Eu vivo
nos bairros escuros do mundo
sem luz nem vida.

Vou pelas ruas
às apalpadelas
encostado aos meus informes sonhos
tropeçando na escravidão
ao meu desejo de ser.

São bairros de escravos
mundos de miséria
bairros escuros.

Onde as vontades se diluíram
e os homens se confundiram
com as coisas.

Ando aos trambolhões
pelas ruas sem luz
desconhecidas
pejadas de mística e terror
de braço dado com fantasmas.

Também a noite é escura.


Agostinho Neto

terça-feira, 17 de março de 2009

quinta-feira, 12 de março de 2009

SORRATEIRAMENTE

E sorrateiramente chegou à minha beira, gorro branco na cabeça, sorriso tímido mas maroto, à boa maneira de “nuestros hermanos”.
Pouco foi necessário para soltar sorrisos, brilhos e magias… Um olhar, um ou dois copos vazios e assim estávamos em festa. Nada o fazia prever, mas acontece, dizem os entendidos.
Um até amanhã, um cheiro qualquer que veio comigo para casa, uma pequena alucinação.
O dia seguinte é sempre mais difícil, dizem outra vez os entendidos, (e eu tenho de concordar) a timidez do sorriso já tinha evaporado, ficou apenas o sangue quente e o corpo arranjado.
Mais um ou dois copos vazios, atrevia-me a dizer três ou quatro, mas quero antes pensar em dois e, é aqui que mais uma vez entram os entendidos a dizer alto e a bom som que dois é um número romântico… e eu continuo, na tal alucinação, pequena mas forte, com garra, como a tua garra.
Chegam sorrateiramente as palavras trocadas, horas que me pareceram dias, e de novo sorrisos e olhares marotos.
Entre os momentos e a despedia, ficam os impacientes cigarros que ambos fumamos. Tudo soube a tão pouco, houve convites, houve sinais que não quero entender, certezas, outras tantas dúvidas e um carro a correr.
Levei de novo um cheiro para casa, mas já não era um cheiro qualquer, levei também fantasias, estradas que hoje descubro estarem cortadas mas que me atrevo a passar.
Sorrateiramente, esta minha pequena alucinação transforma-se numa leve demência que me sabe bem, mas que magoa, que me trilha o peito como um soutien apertado, mesmo que nunca tenha usado nenhum.
E assim fiquei, pensativo, utópico como sempre, com saudade de um gorro branco, com saudade de dois copos vazios, duma quarta-feira qualquer que passou sem avisar…sorrateiramente.
Dizem os entendidos mais uma vez e para finalizar, que se falecesse ali… naquele momento, falecia feliz!
E quem sou eu para os contrariar?