sábado, 29 de novembro de 2008

O tempo

sujo
Há dias que eu odeio
Como insultos a que não posso responder
Sem o perigo duma cruel intimidade
Com a mão que lança o pus
Que trabalha ao serviço da infecção

São dias que nunca deviam ter saído
Do mau tempo fixo
Que nos desafia da parede
Dias que nos insultam que nos lançam
As pedras do medo os vidros da mentira
As pequenas moedas da humilhação

Dias ou janelas sobre o charco
Que se espelha no céu
Dias do dia-a-dia
Comboios que trazem o sono a resmungara para o trabalho
O sono centenário
Mal vestido mal alimentado
Para o trabalho
A martelada na cabeça
A pequena morte maliciosa
Que na espiral das sirenes
Se esconde e assobia

Dias que passei no esgoto dos sonhos
Onde o sórdido dá as mãos ao sublime
Onde vi o necessário onde aprendi
Que só entre os homens e por eles
Vale a pena sonhar.


Alexandre O'Neill

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Nick Cave ft P.J. Harvey - Henry Lee

O Sr. Nick, a Sra. Harvey, num dueto doce, sedutor, que está mesmo ali... no vão da escada.

domingo, 23 de novembro de 2008

Perdidos/Achados

Não sei o que é o sono,
Apenas adormeço ao sabor do cansaço,
Rodeado no lume brando do pensamento,
Do gesticular da alma,
Da apatia do corpo…
Vou pelo caminho escondido,
Não me encontro,
Não te encontro…
Onde nos escondemos?
Existimos?
Não !
Fomos apenas um delírio…
Volto ao caminho escondido.
Procuro-me,
Procuro-te…
E descubro apenas a secção dos perdidos e achados.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Só o Sábio

O sábio,
com um só lábio,
diz mil verdades,
enquanto cala, com o outro, as mil maldades
que vê só de um olho,
porque o outro, zarolho,
é cego, para poder ver, na escuridão,
a multidão
que grita,
aflita,
e que só ele ouve com um ouvido,
já que o outro é surdo, está entupido,
para escutar só um som
do dom
que o ilumina
na mais pura neblina.

Paulo Abrunhosa in Diário de um Dromedário

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

BIM - Stay in my memory

São praticamente desconhecidos em Portugal, mas nao será por muito tempo...(digo eu) uma "aposta" do Faz Frio na Escada para este inverno, um video brilhante, uma música e letra à qual nao se fica indiferente.. são os BIM com Stay in my memory..

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Melodia

Entro ao de leve na batalha,
Suave, quase sem dar por mim.
Aos poucos entranho-me,
Afundo-me e estou lá…
No meio, no epicentro.
Não adianta desviar,
Já não magoa as feridas.
Respondo aos ataques,
E com sangue a jorrar da boca
Não paro, não importa.
Agrido, agridem-me…
E é bom assim.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

É do Frio, É das Escadas...

Por vezes tomamos atitudes irreflectidas, menos pensadas, menos ponderadas, menos sentidas.
Por vezes somos surpreendidos pelos nossos actos, por actos de outros, por palavras, por gestos, por situações.
Por vezes somos inconscientes, por vezes fazemo-nos inconscientes e deixamo-nos ir no vento que guia a nossa irracionalidade, somos humanos e as vezes não temos a noção disso…pelo menos eu não, e gosto de assim ser.
Dizem que sou sonhador, eu concordo e acrescento… sou utópico, irrealista e gosto… gosto de viver entre a quimera e a loucura, entre frio e o quente, entre o estar e o não estar.
Sou assim… e nada há a fazer…!!
O que seria o fim deste blog, afinal não foi, e porquê?
Porque o frio vem todos os anos, porque as palavras saltam da mente, porque não há motivo algum para deixar de existir… porque não houve motivo algum que impedisse o seu fim…talvez porque não o entendem, ou compreendem, talvez porque não haja absolutamente nada para entender, talvez porque as palavras, a escrita, a música é aquilo a que chamamos arte e na arte nem sempre há verdade, sentimentos e dignidade… é arte.
Por estas e por outras, o Inverno está de volta e o frio que se sente na escada vem com ele…
Este blog retoma a sua vida normal, esteve em coma profundo, mas renasce mesmo já quando todos festejavam a sua morte.